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Capela Circular de São Mamede

Culto de São Mamede

 

Embora celebrado em alguns locais do nosso país, é em Janas que o culto de São Mamede guarda a mais antiga tradição.

Nascido em Cesaria, na Capadócia, no ano de 261, São Mamede foi vítima da sua fé religiosa.

Perseguido pelas autoridades, sofreu os mais variados tormentos: depois de preso foi flagelado e apedrejado, acabando por ser lançado ao rio.

Diz a tradição que, tendo sido lançado ao circo para ser devorado pelas feras, estas se prostaram a seus pés como cordeiros.

Condenado a ser queimando vivo, acabaria, no entanto, por sofrer o martírio de ter o abdómen aberto com um ferro tridente.

As virtudes atribuídas a São Mamede são muitas, desde protetor de animais (bovinos e ovinos), até advogado contra a falta de leite nas mulheres que criam, variando conforme o local onde lhe rendem o culto. Era ainda costume, entre mães que amamentavam os filhos, levá-los ornamentados com fitas e figas de cores vivas penduradas ao pescoço, a tocar a imagem do santo para que as crianças mamassem bem. Quanto às mães, essas, bebiam água de uma certa fonte existente junto à ermida, obtendo assim leite bom e abundante.

Das festividades conhecidas dedicadas a São Mamede, é em Janas o único local onde, o gado, por tradição, dá três voltas à Ermida na altura de ser benzido.

Ao atribuírem origem pagã à Ermida de Janas, os eruditos defendem a ideia baseando-se ter sido a zona largamente habitada na época Luso-Romana. No entanto, não se ignora ter sido o local bastante habitado em épocas anteriores por populações que, certamente, fizeram transitar as suas tradições, nomeadamente as suas crenças.

O considerar-se o local de Janas como segunda designação, o nome de Lucina, divindade pouco conhecida, mas que alguns investigadores dão como das mais antigas divindades de península, companheira de Lug, de onde derivaria o nome de Lusitânia.

Diz ainda a tradição que quando pensaram construir a capela, a fizeram de paredes direitas, mas no dia seguinte toda a obra estava destruída.

Só quando a fizeram redonda, é que ela se manteve de pé, e se conservou em muito bom estado até aos nossos dias.

 

Detalhes sobre a Capela e o Culto

 

O sítio de São Mamede de Janas tem uma longa história de sacralidade, remontando as suas origens, pelo menos, ao período de domínio romano, altura em que aqui se terá edificado um primitivo templo. Dessa estrutura restam ainda importantes vestígios junto aos contrafortes do actual templo, mas a identificação nas proximidades de espólio pré-histórico (FERREIRA, 1962, pp.340 e 363) pode fazer recuar ainda mais a cronologia inicial de ocupação do local, assim se confirme esta relação em futuras intervenções arqueológicas.
Os vestígios romanos materiais são pouco relevantes e resumem-se a "restos duma construção baixa, muito grosseira, também de planta circular e constituída por pesados blocos de calcário ligados por argamassa e dispostos de maneira a formarem dois degraus" (IDEM, p.337). No entanto, existem bons argumentos que relacionam esse passado romano com a planta circular do templo (que teria sido, assim, mantida na construção da capela), com a estranha solução "de seis elegantes colunas de fuste liso, de sabor clássico, que se ergue ao centro" (IDEM, p.338) e, ainda, com o aparecimento de algumas sepulturas de inumação nas imediações (IDEM, p.341). No século XIX, o Visconde de Juromenha admitiu a hipótese de aqui ter existido um templo dedicado a Janus (facto que explicaria também o topónimo Janas), mas estudos posteriores sedimentaram a hipótese de se ter tratado de um templo a Diana, pela natural continuidade de culto entre a divindade pagã e o santo cristão (ambos protectores dos animais), pela possível origem do topónimo Janas em Diana (com forma intermédia em Jana, ou Iana) e pela circunstância de os templos romanos dedicados a esta deusa serem de planta circular (IDEM).

Esta hipótese de interpretação (que o autor prudentemente assim cataloga), não foi, até ao momento, confirmada ou rejeitada, pelo facto de ainda não se terem realizado escavações sistemáticas no local. Desta forma, apenas sabemos que, antes da actual capela, existiu um outro templo, cujos indícios materiais e conceptuais apontam para o período romano. Também desconhecemos a evolução do sítio durante toda a Idade Média, sendo certo que ele já existia em 1494, altura em que se refere a ermida de São Mamede (MARQUES, 1939).
A actual configuração data da época moderna, provavelmente de finais do século XVI (como se menciona nos Tesouros Artísticos de Portugal, 1978, p.304), ou já do século XVII (como pretendeu CORREIA, 1914, p.212). O carácter erudito da sua estrutura central, circular e formada por colunas italianizantes de fuste liso e capitéis que suportam um tambor que se ergue até ao tecto, fez com que alguns autores sugerissem tratar-se de uma obra devida ao génio de Francisco d'Ollanda, que sabemos ter andado por estas paragens.


Em volta do tempietto, existe o corpo do templo, de planta circular, com banco corrido a toda a volta, interrompido pela minúscula capela-mor, cujo altar é ladeado por ex-votos animalistas. O púlpito, que pretendeu copiar o tempietto, é de 1881. No exterior, sobressai o alpendre (estrutura tão comum nos templos rurais do aro de Sintra), que se adossa a metade da capela e ao qual se acede por duas portas, e os três contrafortes que reforçam a parte mais baixa do monumento.
A ermida é ainda importante de um ponto de vista antropológico, uma vez que, entre 15 e 17 de Agosto, aqui se realiza uma curiosa romaria de pendor rural, que consiste na condução de gado em volta do templo. A tradição impõe que se façam três voltas rituais no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio e, muitas vezes, os seus donos depositam ex-votos no interior, acompanhados de ofertas como trigo, cevada ou azeite (recebendo os animais, em troca, fitas de cores que conservam durante o ano). Esta "troca" devocional continua ainda a verificar-se nos dias de hoje, embora já sem a amplitude de outros tempos, em que chegou a verificar-se a afluência de manadas vindas de uma vasta região que ia de Cascais a Torres Vedras.
PAF - Transcrição da informação que consta no site do IGESPAR ​

Mitologia

 

Na aldeia corria a velha história. Teria sido edificada uma igreja de planta retangular que, numa única noite caiu em ruínas. Não tardou que se edificasse uma nova ermida, esta de formato quandrangular mas...melhor sorte não conheceu do que a primeira. Durante a noite, também esta desabou. Terceira tentativa se fez, sendo edificada desta feita uma capela redonda, fixa colina de areia mantendo-se assim até aos dias de hoje.

Ao efetuar uma importante escavação arqueológica ficámos a saber como as populações daquela região encaravam a morte, nos séculos XIV e XVIII, pois numa primeira fase ligada à segunda igreja, encontram-se igrejas, onde eram depositados um ou mais corpos, e o que é mais curioso, é que todos levavam na mão uma moeda, destinada a pagar a passagem.

Numa segunda fase, os corpos desciam À terra amortalhados, levando consigo objetos religiosos absolutamente pessoais, tais como terços, medalhas e cordões de S.Francisco enrolados à cintura, que se dizia ser o melhor meio para se sair do purgatório e atingir, assim, o Paraíso. Também se encontraram restos de práticas de bruxaria guardados em potes de barro e depois enfiados entre as sepulturas.

Adaptado do texto de Maria Carlota Álvares da Guerra

Bênção do Gado

 

Presentemente o gado e animais em geral permanece nos curros junto á capela, onde são abençoados após a missa campal que ocorre no dia 17, mantendo-se ainda a tradição das três voltas à capela com as respetivas fitas no caso dos animais de pequeno porte ou de montaria.

Uma Aldeia em Uníssono

É sem sombra de dúvidas o maior orgulho das "gentes" de Janas, quer pelo que se mostra a quem nos visita, quer pelo espírito de cumplicidade e entreajuda que se vive durante as festividades.​

A Festa que outrora durava três dias tem neste momento sete ou mais dias, sempre com várias atividades. Para tal evolução muito contribuiu a direção do Janas Futebol Clube, que em 1980, e com o contributo de vários habitantes, consegue colocar eletricidade em São Mamede, tendo a festa nesse ano cinco dias de duração.

O slogan utilizado neste momento é de resto a síntese perfeita do espírito de São Mamede:

"Juntos Fazemos Melhor"

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